Acordei recordando que um dos meus programas favoritos, quando estudante na França, era aproveitar as manhãs ensolaradas de domingo para ir a “La Brocante”, um mercado público itinerante também conhecido como Feira de Antigüidades, “Marché de Puces” ou “Flohmarkt”, no qual famílias armam uma mesinha para vender objetos pessoais de que não se servem mais. Lá, a gente encontra desde roupas e bijuterias a discos, brinquedos, candelabros, porcelanas, faqueiros e livros, raros ou antigos.
A diversão e o inusitado do passeio é a coincidência de nos depararmos com os próprios donos das quinquilharias que, muitas vezes, acabam nos contando um pouco da historia daquela antiga peça. Encontramos crianças vendendo coleções de bonecas e jogos de vídeo-game, e fazendo a boa propaganda para os novos jovens compradores; senhoras de cabelos grisalhos desfazendo-se dos cristais e pratarias; fashionistas à procura dos modelos mais usados (e ousados!) de calça jeans “Levis” e tênis “All star”, cinqüentões expondo suas furadeiras, ferramentas e instrumentos de jardinagem em perfeito estado de conservação. Em síntese, todos estão com um largo sorriso no rosto: uns porque venderam o que consideravam inutilidades e outros porque compraram tesouros por uma boa pechincha!
Na verdade, a primeira vez que fui a um mercado como aquele tinha onze anos e acabava de chegar em Brugges com meus pais. Ainda me lembro da alegria que senti quando comprei um urso de pelúcia enorme, negociado por uma garotinha e seus irmãos num parque próximo à estação de trens. Alguns anos depois, em um Flohmarkt de Berlim, também comprei um sobretudo bege, da marca Adler, semelhante ao que Ingrid Bergman usou em Casablanca, que preservo até hoje como uma verdadeira relíquia!
Morando na França, não poderia ser diferente. Divertia-me nas ruelas dos mercados, descobrindo fascinada cada história guardada nos inúmeros objetos do mundo das Brocantes. Os "petits souvenirs, pas chers" garimpados nessas andanças transformaram o meu quarto num mundinho de significativas recordações… Entre os meus achados prediletos estão duas antigas caixinhas de madeira de charutos cubanos Ramon Allones, ainda com o timbre de importação de uma empresa de Genebra e adornadas com uma gravura de “Romeo y Julieta”, um encantador cartão postal naïf de uma boulangerie parisiense, um pequeno porta-jóias da secular fabrica de porcelana Villeroy & Boch, um castiçal de cristal de Reims (adquirido por um Euro e pela escuta de uma bela história de amor!), um livrinho de culinária com molduras art-nouveau realçando o menu de cada dia e, por último, um CD do charmoso Patrick Bruel.
Foi com mamãe que aprendi a enxergar a beleza e a magia pulsante dos mercados públicos... e tudo isso serviu para a construção da melhor parte do que sou hoje...