Há algum tempo, instalou-se em nossa cidade um agradável restaurante de cozinha portuguesa. Digo agradável em todos os aspectos: desde a decoração à música. Um Galo de Barcelos gigante à entrada, quadros e ilustrações com temas portugueses nas paredes e mesas, e uma fadista que desfia a sonoridade de amores e dissabores a noite inteira para os clientes são partes das peculiaridades desse lugar. Os deliciosos vinhos do Porto, assim como o bolinho de bacalhau e o pastel de Belém enriquecem a gastronomia lusófila do ambiente e nos fazem mergulhar, ainda mais, na atmosfera e no charme do país de Camões, Pessoa, Saramago e Amália Rodrigues.
Mas não foi dos poetas, do renomado escritor ou da artista que a ida ao restaurante me fez recordar. Lembrei-me, com saudade, dos dias que passei em Coimbra na companhia dele e de sua esposa, durante o período em que ele cursava o doutoramento naquela vetusta e tradicional universidade.
Naquela mesa, sem dúvida, faltava ele, com a sua perene alegria, seu aprimorado bom gosto gastronômico, sua elegância de gestos e sua bagagem repleta de estórias bem humoradas oriundas de encontros com personalidades como Xanana Gusmão no Timor Leste, pesquisadores na Bulgária, juristas do Tribunal de Luxemburgo, colegas professores de universidades como Harvard, Instituto Europeu de Florença, Frei Universität de Berlim, entre outros panteões do direito mundial.
O motivo de sua ausência neste final de semana foi a ida à terra de Erasmo, de Van Gogh, dos moinhos de vento e do Gouda para participar da “74th Conference of the International Law Association” que tem como tema “De Iure Humanitatis: Peace, Justice and International Law”.
Ali, quase noventa anos depois de Epitácio Pessoa, que em 1923 foi juiz da Corte Internacional de Justiça em Haia, outro nordestino e descendente daquele marcava presença. Como um novo “águia” das terras do Cabo Branco, alçou vôo para levar a palavra paraibana à douta assembléia internacional, reunida para discutir as importantes questões que nosso tempo coloca sobre a Justiça e os Direitos Humanos.
Assim, concluo o texto em sua homenagem. Não somente pelas afinidades e interesses que nos unem no mundo jurídico e filosófico, nem tampouco como a ouvinte atenta que aprendi a ser ao longo da convivência com o Prof. Dr. Marcílio Toscano Franca Filho, “um jurista de formação acadêmica e profissional consolidada, além de pessoa de indiscutível densidade intelectual”, no dizer de Rubens Nóbrega. Concluo, muito mais, como uma irmã orgulhosa que reserva para ele hoje um abraço de boas-vindas, transmutado em palavras, pela freqüente incapacidade que nós humanos temos de conter as emoções e os sentimentos quando são grandes demais...