terça-feira, 24 de agosto de 2010

Um novo “águia”

Há algum tempo, instalou-se em nossa cidade um agradável restaurante de cozinha portuguesa. Digo agradável em todos os aspectos: desde a decoração à música. Um Galo de Barcelos gigante à entrada, quadros e ilustrações com temas portugueses nas paredes e mesas, e uma fadista que desfia a sonoridade de amores e dissabores a noite inteira para os clientes são partes das peculiaridades desse lugar. Os deliciosos vinhos do Porto, assim como o bolinho de bacalhau e o pastel de Belém enriquecem a gastronomia lusófila do ambiente e nos fazem mergulhar, ainda mais, na atmosfera e no charme do país de Camões, Pessoa, Saramago e Amália Rodrigues.
Mas não foi dos poetas, do renomado escritor ou da artista que a ida ao restaurante me fez recordar. Lembrei-me, com saudade, dos dias que passei em Coimbra na companhia dele e de sua esposa, durante o período em que ele cursava o doutoramento naquela vetusta e tradicional universidade.
Naquela mesa, sem dúvida, faltava ele, com a sua perene alegria, seu aprimorado bom gosto gastronômico, sua elegância de gestos e sua bagagem repleta de estórias bem humoradas oriundas de encontros com personalidades como Xanana Gusmão no Timor Leste, pesquisadores na Bulgária, juristas do Tribunal de Luxemburgo, colegas professores de universidades como Harvard, Instituto Europeu de Florença, Frei Universität de Berlim, entre outros panteões do direito mundial.
O motivo de sua ausência neste final de semana foi a ida à terra de Erasmo, de Van Gogh, dos moinhos de vento e do Gouda para participar da “74th Conference of the International Law Association” que tem como tema “De Iure Humanitatis: Peace, Justice and International Law”.
Ali, quase noventa anos depois de Epitácio Pessoa, que em 1923 foi juiz da Corte Internacional de Justiça em Haia, outro nordestino e descendente daquele marcava presença. Como um novo “águia” das terras do Cabo Branco, alçou vôo para levar a palavra paraibana à douta assembléia internacional, reunida para discutir as importantes questões que nosso tempo coloca sobre a Justiça e os Direitos Humanos.
Assim, concluo o texto em sua homenagem. Não somente pelas afinidades e interesses que nos unem no mundo jurídico e filosófico, nem tampouco como a ouvinte atenta que aprendi a ser ao longo da convivência com o Prof. Dr. Marcílio Toscano Franca Filho, “um jurista de formação acadêmica e profissional consolidada, além de pessoa de indiscutível densidade intelectual”, no dizer de Rubens Nóbrega. Concluo, muito mais, como uma irmã orgulhosa que reserva para ele hoje um abraço de boas-vindas, transmutado em palavras, pela freqüente incapacidade que nós humanos temos de conter as emoções e os sentimentos quando são grandes demais...

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Diversidades

Hoje quero tentar descrever apenas a descoberta de uma sensação que me acompanhou nos últimos dias, forte o suficiente para me levar a compor mais um artigo.
Confesso que o que me atrai até aqui é uma inquietude no espírito… uma agitação na alma… um ímpeto que me leva a abrir o laptop e permitir que algumas palavras erupcionem do papel.
Percebi que desde que comecei a expor minhas descobertas do mundo, sou tomada por sensações semelhantes: pulsões... impulsos para dar vida a uma folha em branco, ao escrever minhas impressões diante da fascinante descoberta de um mundo tão rico em diversidades. Diversidades digitais, culturais, naturais e sensitivas.
E, ao falar sobre a “diversidade digital”, lembro-me de algo que sempre me chamou bastante atenção quando morava na França: o fato de presenciar tão de perto o avanço tecnológico. Pois, mesmo estando nós inseridos na famigerada era da globalização, é evidente que a nossa pacata João Pessoa ainda esta distante de acompanhar o ritmo acelerado de tais inovações.
Com efeito, recordo-me do meu “espanto” quando, há cerca de cinco anos, me defrontei com um GPS pela primeira vez. Saia de uma bela exposição do nosso Flavio (Tavares), na Universidade Lyon 3, e fui levada pra casa no carro de um casal amigo.
Naquela noite, logo em seguida à pergunta do condutor do veículo sobre meu endereço, fui surpreendida com uma voz eletrônica que dizia: "tournez à gauche" e "allez tout droit". Minutos depois, boquiaberta, fui deixada na porta de casa!
Acho que a descoberta da tecnologia tem me causado um espanto que só é possível ser comparado com aquele dos primeiros gregos diante da fascinante dinâmica do mundo. Aliás, esse espanto frente à existência é uma sensação que me acompanha e me faz lembrar dos versos de Fernando Pessoa ao afirmar que "o existir existe e não se explica".
Assim, vou terminando o texto desta terça-feira esforçando-me para não mais tentar entender o funcionamento do bluetooth, o que vem a ser o formato mp5, qual será o tamanho físico de um mega, ou como seria tecer uma rede sem fios.
E mergulhada num tempo de desmaterialização das coisas, concluo apenas com o objetivo de materializar minhas palavras e meus sentimentos face a esse mundo, de certo modo, assustadoramente novo…