terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Guerra e paz nas estrelas

Fui surpreendida com a recente notícia, publicada da edição 2201, de 26/01/2011, da revista Veja, de que os signos do zodíaco foram alterados devido a uma oscilação no eixo da Terra. Com a tal mudança, os astrônomos afirmam que os signos tradicionais não correspondem mais ao alinhamento das constelações com o Sol e, para realinhá-los nas casas correspondentes, acrescentou-se mais uma constelação: o novo signo chamado Serpentário (ou Ophiuchus), que abriga os nascidos entre 29 de novembro e 17 de dezembro.
A notícia é impactante, pois as características dos escorpiões sempre foram marcantes na minha personalidade: misteriosos, exigentes, críticos, audazes, perspicazes, sutis, imprudentes, ardentes e leais. Não só isso. Trata-se de um signo tão forte, que até o poetinha Vinicius de Morais nos contemplou, mulheres escorpianas, com alguns versos seus. Ocorre que, após a leitura da notícia, encontro-me num verdadeiro conflito de identidade, pois descobri que me tornei libriana. Expulsa do território dos escorpioninos e sem saber ainda se serei acolhida entre os de Libra, o signo dos refinados, doces, amáveis, inteligentes, apaixonantes, simpáticos e generosos, sinto-me numa espécie de limbo estelar, ferida por aquilo que bem pode ser chamado de a “quarta ferida narcísica”. Nasci já sabendo que a Terra não era o centro do universo, que descendemos dos primatas e que a consciência é a menor e mais fraca parte da nossa vida psíquica. No entanto, nunca havia colocado em dúvida o meu vínculo cosmológico com Antares, a estrela mais brilhante da constelação de Escorpião.
Tem razão o sociólogo polonês Zygmunt Bauman ao dizer que vivemos numa sociedade líquida. Nosso tempo se caracteriza pela fluidez de tudo, liquefação de todas as certezas, risco e complexidade. Mas quem diria que essa fluidez alcançaria os astros, deslocando para novos signos os confiantes e ingênuos leitores do horóscopo de cada dia?
Indago-me como o discreto, modesto e passivo virginiano vai se tornar um intrépido e valente leonino; como suportará aquele meu vaidoso amigo, regido por Plutão, a amarga decepção de saber que seu planeta regente foi rebaixado à categoria de subplaneta e sequer consta mais do Sistema Solar. E eu mesma, intuitiva e impulsiva, conseguirei o equilíbrio da Balança?
Mas, nem tudo é tragédia. Talvez aquela moça se alegre com a guerra nas estrelas: afinal, descobriu que o libriano por quem se apaixonou é agora “virgem”!...

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