terça-feira, 13 de julho de 2010

Notas musicais

Não só as palavras me tocam. Descubro que as melodias também.
Acho que uma das coisas simples da vida que me enchem de prazer é escutar música. A caminho do escritório, trocando de roupa antes de uma festa, num barzinho à beira mar, nos dias de chuva e nas manhãs de sol, arrumando meu quarto, aprendendo francês ou brincando de falar italiano, fazendo comidinhas gostosas, no caramanchão do jardim da minha casa... a sonoridade me acompanha em todas essas ocasiões. Penso que se fazemos o papel de atores no filme da vida, todos os lugares e momentos precisam de um fundo musical e uma trilha sonora. E, mesmo a música sendo sinônimo de alegria e descontração, até nos instantes down da alma uma musiquinha (clássica ou não!) sempre cai bem.
O que eu ainda não tinha descoberto de modo tão nítido é que o universo da música também nos faz mergulhar num universo profundo de sonhos e imaginação. A música nos faz viajar a outros lugares, trazer pessoas, arrancar sorrisos dos lábios e lágrimas dos olhos, viver personagens por alguns instantes, remexer o esqueleto e, claro, sonhar!
Quem nunca dançou na frente do espelho imaginando o “tum tum tum” eletrônico da balada mais tarde? Ou fechou os olhos, aproximou uma mão contra o peito, sentiu o perfume e o calor dos braços do amado, e ensaiou alguns passinhos de música lenta imaginando tê-lo em seu abraço? Que mulher, ainda, nunca se viu com um sapato alto, vestido preto fendado e uma rosa vermelha na boca ao escutar um tango?
Microfone com a mão fechada? Guitarra imaginária? Aula de dança? Cantar embaixo do chuveiro? Copiar letra de música no caderno? Tudo isso apenas evidencia que a Música, assim como as todas as Artes, é um meio de distinguir o ser humano dos animais e valorizar o nosso lado sentimento e a esfera emoção da vida.
Para mim, por exemplo, é impossível escutar Ronda e não me colocar junto do personagem que sentia aquela imensa dor ao vaguear pelas ruas da cidade à procura do amor sem encontrar. É impossível também não imaginar o bem que seria merecedor da “rosa mais linda que houver e da primeira estrela que vier”. Ou quem não gostaria se ele ou ela viessem “pro que der e vier” e ver a promessa cumprida de receber “o Sol, se hoje o Sol sair, ou a chuva, se ela cair”?
Por isso, hoje quero musicar e sonhar. Quero permitir-me “caminhar contra o vento, sem lenço e sem documento”, imaginar “la vie en rose” enquanto tomo um vinho embaixo da Torre Eiffel. Quero afastar “la soletudine” e ser acalentada com “não, não chores mais”, para, enfim, mandar minha tristeza ir embora e dizer “chega de saudade”.

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