terça-feira, 7 de setembro de 2010

O valor do silêncio

O que mais se discutiu nos sites de política das últimas semanas foi a declaração da assessoria de imprensa de um dos candidatos à chefia do Executivo que ele não mais participaria de debates na televisão. E, segundo jornalistas de canetas afiadas, o motivo da declaração é a sua possível queda nas pesquisas diante da inaptidão que o candidato tem para dominar o tempo das respostas, além de escorregar no português. Pra completar, outros segmentos da imprensa alegaram que o não comparecimento se daria pela falta de ousadia e coragem para enfrentar seu oponente.
A enxurrada de notícias só me fez lembrar dos embates entre Sócrates e os sofistas gregos; estes últimos conhecidos pelas suas habilidades retóricas e argumentativas, e preocupados, muito mais, com o poder do que com a verdade.
Por isso, eu, que já plantei girassóis no meu jardim, vejo-me agora instigada a refletir sobre a coragem, confrontando-a com a honra, bem própria dos heróis das epopéias homéricas.
Seria uma expressão de coragem alguém conquistar o meu voto e o voto de mais de 262 mil eleitores da cidade, por levantar a bandeira da justiça-social, vestir a camisa laranja da honestidade, regar com esperança a vastidão dos girassóis, símbolos da liberdade de um povo e, subitamente, fazer uma contraditória e inexplicável aliança com opositores de alma e de idéias?
Seria corajoso desviar-se das veredas das virtudes políticas para tomar os atalhos sombrios dos vícios da politicagem? Seria, ainda, corajoso negar luz e calor a girassóis em florescência, pretender que definhem como plantas mirradas e sem vida, abrindo a insetos e serpentes as porteiras do mesmo campo onde outrora proliferavam flores?
Assim, superada a decepção e a tristeza, entendo agora que escorregões ocasionais na linguagem não impedem um candidato, ou melhor, um jardineiro, de fazer a sementeira, cuidar do seu canteiro e realizar as suas obras. Não podemos esquecer que embora uma bela arte, a retórica abriga sempre o perigo de manipular e enganar, se o sofista assim o quiser.
Por isso, penso ser melhor o cuidado mudo de um jardineiro simples, cuja honra é um valor que ainda preserva, do que a requintada oratória, o barulho inflamado e o grasnar ensandecido de corvos em aliança.
Afinal, é no silêncio que um jardineiro cuida de sua seara. É no silêncio que um mestre de obras trabalha o seu canteiro. É no silêncio que as urnas respondem à infidelidade de um líder ao povo que nele confiou e por ele se fez representar...

Nenhum comentário:

Postar um comentário